Produção e distribuição de energia na Europa
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A Europa possui uma malha energética altamente interconectada por meio da ENTSO-E (European Network of Transmission System Operators for Electricity), que coordenada os operadores de transmissão dos países da União Europeia. A rede síncrona continental (CESA) integra a maioria dos países da UE, permitindo o intercâmbio de eletricidade em tempo real e equilibrando oferta e demanda em crises.
Além disso, vários enlaces HVDC (corrente contínua) ligam a UE à Grã-Bretanha, Marrocos e até à Noruega, garantindo fluxos controlados entre redes sincronizadas e não sincronizadas.
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Interconexões regionais estratégicas, como entre Espanha–França, Itália–Suíça e os estados bálticos–CE, fortalecem a resiliência da rede e evitam que falhas isoladas causem apagões continentais.
O último grande apagão
Em 28 de abril de 2025, por volta das 12h33 CEST, um blackout massivo atingiu Espanha e Portugal, com reflexos também em partes da França e até Andorra. A queda energética ocorreu de forma rápida — cerca de 10 segundos — desconectando aproximadamente 60% da capacidade elétrica espanhola (15 GW).
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Causa
Não foi um ciberataque — as investigações descartaram essa possibilidade. Em vez disso, identificou-se um surto de tensão, que causou falhas em série: primeiras perdas em subestações de Granada, Badajoz e Sevilha; em seguida, caída do enlace com a França. Isso ativou os disjuntores automáticos e causou o colapso quase total da rede ibérica.
Impactos
- Duração: cerca de 10 horas até restabelecimento integral em Espanha e Portugal.
- Consequências sociais: transportes paralisaram, semáforos apagaram, telecomunicações caíram para 17% do tráfego normal.
- Vítimas fatídicas: pelo menos 7 mortes na Espanha e 1 em Portugal, incluindo falhas de aparelhos médicos e incêndios por velas.
- Assistência internacional: França reativou linhas e o Marrocos forneceu energia via interligação; hidrelétricas locais iniciaram black-start.
Medidas tomadas pelos principais países para evitar novos apagões
Após o apagão, a Europa acelerou iniciativas para fortalecer a robustez de sua rede energética:
a) Fortalecimento das interconexões
- Espanha–França: o Banco Europeu de Investimento aprovou €1,6 bilhão para ampliar a capacidade de 2,8 GW para 5 GW via interligação do Golfo da Biscaia, projetada para 2028.
- Projetos nos Pirenéus também tramitam para reforçar conexões entre Espanha e França.
b) Revisão de planejamento e operações
- Relatórios técnicos apontam falhas na gestão de tensão, falta de reservas térmicas operacionais e más coordenações entre operadoras e produtoras.
- Foram definidas diretrizes para acionar usinas térmicas em pico e ampliar capacidades reativas para resposta rápida a oscilações.
c) Padronização e regulamentação europeia
- O Parlamento Europeu exigiu um plano urgente de reforço da rede até 2030, estimado em €584 bilhões, para evitar futuras falhas.
- A proposta inclui maior integração do mercado energético, reservas regionais compartilhadas e proteção contra oscilações dinâmicas.
d) Expansão de black-start e reservas estratégicas
- Portugal revelou expansão do black-start (início da rede a partir de hidrelétricas) para além da Tapada do Outeiro, incluindo Alqueva e Baixo Sabor.
- Espanha, França e Alemanha planejam aumentar usinas habilitadas ao black-start e melhorar o tempo de recuperação após falhas.
e) Monitoramento em tempo real e centros de coordenação
- A ENTSO-E e operadores nacionais intensificaram o uso de sensores PMU para detectar oscilações antes do colapso.
- Centros de controle, como o Entso‑E Coordination Group, realizam reuniões regulares e estudos de cenários de risco.
A produção e distribuição de energia na Europa dependem de uma infraestrutura profundamente interconectada e sincronizada, como demonstrado pela rede CESA e por links HVDC com países vizinhos. No entanto, o apagão de abril de 2025 expôs vulnerabilidades estruturais: falhas na gestão de tensão, falta de reservas térmicas e baixa interconectividade, levando 60% da Espanha e Portugal ao escuro por horas no mesmo dia.
Em resposta, a UE e países afetados estão investindo maciçamente nas interligações, na capacidade de recuperação black‑start, na revisão operacional e no monitoramento em tempo real. Se essas medidas forem plenamente implementadas, aumentará significativamente a resiliência da rede e reduzir-se-á o risco de novos apagões de alta escala.